quarta-feira, 15 de julho de 2009

..::Um Sonho Guia::..

Uma noite a alguns anos atrás sonhei com um tipo de aula, um ritual que eu deveria aprender e praticar.

Sonhei com um Índio, como se fosse um Xamã me dando orientações sobre uma prova ou experiência que eu passaria futuramente. Na medida que ía falando, algumas imagens se apresentavam na minha mente (como se fosse uma grande maquete na qual eu estaria recebendo instruções para depois executá-las).

Ele me dava orientações específicas para que eu encontrasse um tesouro escondido. Mostrava trilhas e caminhos e, em determinado momento foi exposta a imagem de uma águia com uma das asas abertas na qual eu deveria passar por baixo para (mais a frente) encontrar o tesouro.

Apesar de ter sido um sonho, ele foi lúcido (por que me lembro de detalhes, e de inteirações com o Índio). Mesmo assim não fazia sentido algum toda aquela explicação, que julguei ser simbólica.

Algum tempo depois, conheci por intermédio de um amigo os donos de uma pousada (na verdade um Refúgio) às beiras do Rio Canoas, em Urubici e parece que tudo fez sentido de uma forma assutadora e misticamente natural.

  

A muralha intransponível ao fundo

 

URUBICI

Alguns dizem que siginifica "Pássaro lustroso". Poderia ser uma menção ao Urubu Rei - ave encontrada na região que por algum tempo foi confundido e chamado de Corvo Branco. Outras pessoas dizem que Urubici é uma palavra da língua Xokleng/LAKLÃNÕ* que significa "Terra Mãe de Água Gelada".

Para mim ambos significados são aceitos e entendidos, como verão pelos fatos citados a frente.

 

*Em sua língua,  a palavras Xokleng siginifca “Aranha”. LAKLÃNÕ é como se auto-denominam.  A palavra significa “GENTE DO SOL”.

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Aproximação da muralha

 

Na primeira vez que cruzei a Serra do Corvo Branco fiquei estasiado.

Chorei e me arrepiei inteiro. Notem, o arrepio não foi de frio (mesmo sendo esta região a mais fria do Brasil) mas sim de um tipo de amedrontamento e reverência pela intensidade daquelas paredes de cânios que se levantavam a frente!!! Senti como se eu fosse um pequeno grão de nada perante toda a grandeza daquela natureza exuberante. Senti que eu (e muitos outros depois de mim) passariam por aquela estrada e por aquelas trilhas, assim como muitos já haviam passado, mas aquela grande obra divina permaneceria por muitos milênios.

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Quanto mais perto chegava, mais sinistra se exibia

 

"- Como eu vou transpor esta imensidão? Não vejo maneira de ultrapassar estas barreiras a não ser com um grande túnel ou um helicóptero!"

Eu ainda não havia chegado naquele zigzag que vai de um extremo a outro nas paredes de pedra laterais.

Lembro de ter olhado para a direita e ter visto uma imagem que me lembrou uma estátua com uma elevação fálica de pedras como se fosse uma viril demonstração do poder daquela montanha.

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O lado direito masculino

 

Ao olhar para a esquerda, uma rachadura profunda em outra parede, lembrando-me que a Grande Mãe natureza estava Presente.

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O lado esquerdo feminino

 

Por fim, ao chegar até o que parecia o fim daquela estrada sinuosa, íngrime, sedutora e perigosa, me deparei com aquilo que chamei de "Portal": Duas grande paredes de pedra que se elevavam praticamente verticais nas laterais de uma estradinha agora asfaltada e reta.

Aquele caminho do meio entre as paredes em elevação sutil me mostrava no horizonte o sol.

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Sinuosa

 Serra do Corvo Branco Urubici

íngrime

corvo branco Urubici02

sedutora e perigosa

 

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A passagem do Portal

É indescritivel a sensação que senti naquele dia. Como se ao passar por aquelas paredes estivesse renascendo para uma outra realidade, uma nova vida.

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O sol se pondo após a passagem do portal.

A estrada seguiu mais sóbria após esta passagem. Entrando na estradinha que leva ao refúgio senti uma sensação de estar vivendo em tempos passados. Como se nunca estivesse estado ali e ao mesmo tempo sentindo a energia dos clãs que alí viveram, dos poucos aos mais remotos e imemoriáveis tempos.

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A estrada antiga na manhã seguinte

 

Ao chegar já era noite. Conversamos estasiados e cansados da viagem e logo depois fomos dormir.

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Refúgio do Rio Canoas

 

No outro dia, tomei café na casa de uma acolhedora senhora para qual contei a história do sonho.

"-Quando se tem um sonho com um achado não devemos contar a ninguém" - Disse ela como se estivesse revelando um segredo.

Passou a me contar diversas histórias de sonhos com tesouros escondidos que seus antepassados e alguns conhecidos haviam vivido. Falou do tesouro na "porta da Igreja" (uma formação semelhante ao desenho de uma porta ao lado da pedra da águia), contou sobre o seu sonho com o "cavaleiro negro" que lhe assustava quando estava prestes a achar ouro num riacho próximo e história do peão que não foi mais visto após ter tido um sonho com um "achado".

 

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A porta da Igreja

 

"Desta vez" - conta ela - "só ficou para trás o buraco cavado na terra. As pessoas dizem que ele achou um tesouro e foi embora."

“Daqui até o fim da estrada existem sete achados. Três já foram encontrados. Restam ainda quatro!”

Neste mesmo dia prosseguimos pelo caminho do Rio Canoas, sentido Norte, e após algum tempo de caminhada uma nova surpresa.

Eu estava alí andando sob a Asa da Àguia com a qual um dia sonhei.

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A asa estendida da águia indicando o caminho a seguir

 

Sonho e realidade misturados em uma fantasia real vivida por mim.

O que mais haveria de acontecer nestes caminhos mágicos de urubici?

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Rio Canoas: águas geladas

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